domingo, 1 de outubro de 2017

Vieira e seu conjunto Melô da Pomba 1989


11° disco de Vieira, "Melô da Pomba" (1989) foi o momento onde Vieira voltou a gravar no importante estúdio ERLA- Rauland agora renomeado para "RJ" (neste estúdio na década de 70 ocorreram registros históricos dos primeiros LPs de Pinduca, Verequete, Cupijó, Lucindo, Carlos Santos, Raimundo Soldado e do primeiro disco do próprio Vieira).  Após seis álbuns gravados no estúdio da Gravasom, foi no estúdio da RJ que Vieira registrou seus últimos discos na era analógica (além deste, "Lambadas e Cambará" de 1990 e "40 Graus" 1991). Este é o primeiro LP de Vieira onde percebemos o uso de uma bateria eletrônica (um pequeno indicativo de uma nova era que estava prestes a chegar na década seguinte na área musical: a transição do analógico para o digital). Destaco algumas faixas desse disco: "Guitarra de Aço" (onde em certos momentos é possível notar no fraseado virtuoso de Vieira uma nítida conexão com um dos seus ídolos, Waldir Azevedo), "Só Sei Amar", "Rainha" e o brega que encerra o disco, "Na Gafieira".

 Na capa deste disco temos uma representação simbólica tipicamente paraense e muito importante para a cultura local: uma "Aparelhagem". Segundo Vieira me relatou, esta aparelhagem pertencia a uma de suas irmãs. "As festas de aparelhagem", como o próprio nome diz, são festejos onde temos enormes caixas de som onde um ou mais DJs organizam a trilha sonora.  Estas festas no Pará foram importantes para a propagação da música caribenha (merengue e bolero - anos 60, cadence lypso - anos 80), brega e guitarrada (anos 80/90), bem como o gênero tecnobrega, que surgiu e propagou-se inicialmente pelas aparelhagens nos anos 2000.  Essas mesmas grandes paredes com aparelhos de som empilhados são encontradas em diferentes partes do mundo: no Maranhão temos as "radiolas", na Colômbia os "Pícos" e na Jamaica os "Sound System".  O seminal disco "Mestres da Guitarrada" de 2003 também tem em sua capa uma aparelhagem. Foi inspirada no "Melô da Pomba"? A resposta é: sim!

Ps: Na extrema esquerda da capa temos um filho de Vieira (bateria) e ao lado do mestre, agachado, está outro filho: Waldecir Vieira, que após alguns anos se tornou o baterista oficial da banda do pai, mas no disco está como percussionista. E Luís Poça (em pé a esquerda ) aparece como o único remanescente do antigo grupo de Viera, Os Dinâmicos
 Por Bruno Rabelo
 LP digitalizado por André Macleuri
LADO A

1. MELÔ DA POMBA
2. GUITARRA DE AÇO
3. NO SOM DO CAMBARÁ
4. CARINHANDO
5. PROGRAMADOR
6. SÓ SEI AMAR

LADO B

1. BEIJINHO DOCE
2. VAMOS DANÇAR O CAMBARÁ
3. PESCADOR
4. RAINHA
5. É BOM DEMAIS
6. NA GAFIEIRA

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Mestre Vieira tocando um Choro