Blog dos pesquisadores e músicos André Macleuri e Bruno Rabelo com o intuito de divulgar LPs completos (full albuns) das décadas de 1960 a 1990, produzidos, gravados e lançados na região norte do Brasil. Nosso foco são os gêneros: guitarrada, lambada, carimbó, beiradão, brega, MPB clássica (feita por artistas nortistas) e ritmos afins que foram importantes na gestação de alguns desses gêneros. Não temos fins comerciais. O nome do Canal é uma homenagem ao criador da guitarrada, Mestre Veira.
domingo, 26 de setembro de 2021
terça-feira, 19 de maio de 2020
sexta-feira, 17 de maio de 2019
Vieira e seu conjunto Lambadas das quebradas vol. 2
Este é o segundo álbum da carreira
de Mestre Vieira, o disco que o tornou conhecido em outras regiões do país e do
mundo.
A canção Melô do Bode é responsável pelo sucesso do autor na
região nordeste do país e, posteriormente, na Europa: o álbum foi relançado na Inglaterra em 1988 pelo selo STERN’S
DISPORA sob o título de Lambada e com uma capa que faz referência à canção Melô
do Bode.
Foto disponível Neste Link |
Neste álbum, duas músicas podem ser destacadas pelo uso de (ou
recurso semelhante ao) pedal de efeito "whawha", são elas: Lambada do
Rei e Lambada do Sino.
Uma característica curiosa deste disco é o fato de todas as
músicas soarem a aproximadamente um tom acima da tonalidade original. Pois, o
próprio Vieira tocava Lambada do Rei em Dó maior (e não em Ré maior como está
no disco), e Seresteiro em Ré menor (e não em Mi menor como no álbum). Além
dessas, há outras músicas que na gravação aparecem na tonalidade de Mi menor:
Duas Línguas, Lambada do Mapinguari, Joia, Você se afastou de mim e Melô do
Bode. Porém, Mi menor não era uma tonalidade requisitada pelo Vieira, mas sim,
Ré menor, pelo número de músicas que ele fazia neste tom (vide o último disco,
Guitarreiro do Mundo) A Lambada do sino, assim como Lambada do Rei, soa em Ré
maior, enquanto o uso da terceira e da quarta corda solta, é evidente (Nas
músicas instrumentais geralmente Vieira preferia o Dó Maior, pelo uso de cordas
soltas). E por fim Sambista Brasileiro está em Si Maior (Não há música do
Vieira com tonalidades muito acidentadas). Então, possivelmente este disco
passou por um processo de alteração de pitch,
muito utilizado em reprodução musical por DJs e na produção de música
eletrônica, inclusive, foi muito requisitado nos estilos de Brega paraense do início do século XXI (Como o Tecnobrega). Mas o objetivo dessa manipulação geralmente não é alterar a tonalidade, mas sim o andamento da música, para causar um efeito
mais frenético ou aproximar o andamento de uma música a outra, ambos
destinados à atender o público dançante. Também deve ser considerada a
possibilidade de os instrumentos estarem afinados abaixo do diapasão de 440hz
no processo de gravação, mas, por que apenas este disco apresentaria essa
diferença?
André Macleuri
Ouça o disco em nosso canal do youtube ou faça DOWNLOAD AQUI
terça-feira, 20 de março de 2018
Neste
disco, além das inspiradas lambadas , bregas e o sempre presente bolero, Vieira deu ênfase em um gênero latino que até
então não havia tido tanto destaque em
sua discografia: a cúmbia. No álbum de
1985, ele gravou "Vamos Dançar a Cúmbia", e essa era sua única referência explícita ao
ritmo, até aquele momento em sua carreira discográfica. Mas neste LP de 1987,
Mestre Vieira trouxe três temas instrumentais cujo os títulos se referem ao gênero: "Bandolim na Cúmbia", "Cúmbia da Saudade" e "Cúmbia Nacional". Uma motivação provável poderia ter sido o
sucesso do músico Nonato Cavaquinho no ano anterior (1986) com o disco
"Cúmbia Exportação" e o crescente interesse pelo público paraense
pelo gênero naquele período? Fiz um questionamento diretamente para Vieira
do porque do maior destaque das cúmbias especificamente nesse disco de
1987, e ele me respondeu sorrindo que
gravou o ritmo porque "gostava muito".
Há
outra característica importante presente
neste álbum a ser destacada: o uso do bandolim. Esse foi o primeiro instrumento de Vieira,
cujo aprendizado se deu na infância, em fins da década de 30. Até chegar na guitarra elétrica
definitivamente nos anos 70, o mestre passou por inúmeros instrumentos
acústicos como banjo, cavaquinho e violão . O Bandolim é utilizado nas canções "Bola Preta", na já citada "Bandolim
na Cúmbia" e no brega "Tempo de Amar". E nesta música temos mais
uma inovação de seu Joaquim Vieira: é o
primeiro brega instrumental com um
bandolim solista que temos notícia. E
ainda há na mesma faixa um curioso dueto bandolim / sintetizador ( este tocado
por Luiz Poça, o último remanescente do grupo original que acompanhava Vieira
desde os anos 70, Os Dinâmicos). Até então, a última vez que Vieira havia usado
um bandolim numa gravação foi no disco "Melo da Cabra" em 82.
Já
no ano de 2015, em sua derradeira turnê
nacional do disco "Guitarreiro do Mundo" (na qual os donos desse
canal o acompanharam na banda base), Vieira retornaria mais uma vez ao
repertório do disco de 1987. Nessa temporada de shows, Vieira teve a ideia de um
"retorno" às suas "origens acústicas". Num set específico
do show daquela turnê, Vieira saia da guitarra elétrica e num determinado
momento passava a empunhar um cavaquinho (que o mestre carinhosamente apelidava
de "o cavaquinho maluco") e
passava a solar as cúmbias do disco aqui comentado, entre outras.
E
notem uma exclusividade carinhosa do nosso canal: o LP usado no vídeo contém a
bela assinatura do mestre.
Por Bruno Rabelo
Músicas:
01- Bandolim Na Cúmbia 0:00
02- Cúmbia Da Saudade 02:55
03- Bola Preta 05:53
04- Reggae Do Galo 08:25
05- Velho Guerreiro 11:27
06- Vem Cá Meu Bem 15:40
07- Cúmbia Nacional 18:18
08- Africana 21:47
09- Lambada Dos Cabanos 24:34
10- Motorista Amigo 27:14
11- Tempo De Amar 29:59
12- Quero Matar A Paixão 33:07
Músicos Participantes:
Bateria: Roberto/Antonio Carlos
Contrabaixo: Zezinho
Guitarra Base: Cabral
Guitarra Solo: Vieira
Vocalista: Denis
Teclados: Luiz Poça
Percussão: Valdir Vieira / Elias
Ficha técnica:
Produtor Fonográfico: Continental
Direção Artística: Wilson Souto Jr
Produção: Jesus Couto
Estúdio: Gravasom - 8 canais
Assistentes de Estúdio: Waldir/Almir /Leal
Arranjos: Vieira
Eng°.s de Gravação: Fernando Artur/Saulo/Billy Joe
Eng° de Mixagem: Saulo
Técnico de Editagem: Aquilino S. Filho
Supervisão de Corte: Milton Araújo
Foto: Manoel Nunes
Direção de Arte: Toshio H. Yamasaki
Assistente de Arte: Luiz Cordeiro
Paste-Up: Antonio Deliperi
domingo, 18 de março de 2018
"Aldo e Seu Conjunto" (1982):
o "disco perdido" de Aldo
Sena.
para ouvir : https://youtu.be/nGpdxiaW87o
Este é o primeiro LP solo de Aldo
Sena, e ainda sem o sobrenome: é apenas "Aldo e seu Conjunto" (em mais
uma referência direta a Vieira, é claro).
Foi gravado no Mix Som ( que depois passaria a se chamar estúdio Borges)
em 1982, numa única sessão, em um dia apenas. Nesse período, Aldo ainda era
integrante do grupo "Populares de Igarapé Miri", inclusive. Esse LP ficou "perdido" (no
anonimato) por muitos anos. Uma
explicação possível ( que me foi dada pelo próprio Aldo Sena) é que ao ser gravado, demorou a ser lançado, saindo praticamente junto do disco posterior de 83.
E como esse segundo LP fez muito sucesso ( contém canções como Solo de
Craque , Lambada Classe A , Lambada Complicada etc) ele ofuscou o primeiro
LP. E outra curiosidade é que esse mesmo disco foi relançado com ordem de
faixas alteradas e com outra capa e nome: é o disco de 1988, "Dance
Lambadas ".
O disco é composto por lambadas, carimbós,
boleros e bregas. As canções instrumentais
são os destaques do disco tais como "Ripa na Chulipa", "Som
Magneto", "Sinha Mariquinha no
Salão", Meio Pau meio Tijolo e Melo do
Símico" e já mostram um Sena desenvolto nos solos (tinha apenas 23
anos na época!). E ainda que trouxesse referências do seu ídolo Vieira,
ele já começava a despontar como um
guitarrista original. Lembrando que depois
de Vieira e Mário Gonçalves (irmão de Pinduca), ele é o terceiro nome mais
importante da história da guitarrada. Duas faixas cantadas (pelo próprio
músico) se destacam: "Baila
Combeira" (referência a cumbia? talvez...) e "Estrada sem Fim",
com forte inspiração na Jovem Guarda. Sena usou no disco uma guitarra nacional
da marca Snake, que consta na capa. E há um uso do pedal "phaser" , o
mesmo usado no primeiro disco dos "Populares de Igarapé-Miri". Segundo
Sena, o disco foi gravado "na correria" e ele estando com febre
(!!!), portanto, não pode estar na mixagem e nem verificar certos detalhes da
gravação, como uma insistente guitarra base desafinada presente em algumas
canções. Mas a "rusticidade vintage" da gravação acaba dando um sabor
especial às músicas. Há uma "massa sonora" , um vigor presente no álbum.
A
descoberta desse disco de 1982 é recente
até para nós do canal. Em uma entrevista feita por André Macleuri junto a Sena
em 2009, o músico se referiu ao disco mas de maneira confusa, não deixando
claro quando e como foi gravado apenas disse que "fiz um disco que passou
desapercebido", não dando mais muitos detalhes, na época da entrevista. E mesmo em Belém , muitos não conhecem o
disco, apenas as músicas. Importante relatar que uma pessoa que nos ajudou a desvendar parte dessa
história foi o músico Givly Simons dos Figueroas,
ele tem o LP físico. Nosso amigo
alagoano conhece a fundo a música paraense. Mas o dono do LP usado aqui no YouTube vertido para mp3 é de um outro parceiro nosso: o amigo Antonio Barbedo, colecionador
de discos raros antigos paraenses, de colações completas de Vieira entre
outros guitarreiros, além de ser membro fundador do Clube da
Guitarrada aqui de Belém do Pará. Fica
aqui nosso agradecimento fraterno a Simons e Barbedo.
Por Bruno Rabelo
Faixas
Ripa na Chulipa 0:00
Som Magneto 03:30
Por um Amigo , Você me deixou 06:56
Sinha Mariquinha no Salão 09:59
A Menina do Waldir 13:05
Baila Combeira 16:05
Lamento de uma Guitarra 18:42
Estrada sem Fim 21:25
Meio Pau meio Tijolo 24:45
Melo do
Símico 28:02
Produtor Fonográfico: Fermata
Produtor Artístico: Jesus Couto
Coordenação geral: Jesus Couto
Estúdio: Mix Som
Técnico: Napoleão
Mixagem: Jesus Couto e Napoleão
terça-feira, 27 de fevereiro de 2018
Homenagem Fúnebre ao Mestre
E mais uma belíssima imagem do acervo da Secretaria de Cultura de Barcarena: o uniforme original de Vieira e Seu Conjunto, usado na capa e show do disco Lambadas das Quebradas Vol. 3 (1981).
A partida de Joaquim de Lima Vieira, o Mestre Vieira, deixou todos nós fãs numa tristeza profunda, difícil de descrever em palavras. Mas vamos deixar aqui um texto do professor barcarenense Luiz Guimarães, publicado no seu facebook pessoal no dia 02 de Fevereiro de 2018, dia do falecimento do mestre. Uma Singela homenagem.
"Doutor Luiz Guimarães , o ""Professor Leno"" escreve:
Joaquim Vieira,
Foi assim que o conhecemos, vizinho de minha mãe e meu pai. Era famoso por consertar rádios antigos. Morava ainda na Cronje da Silveira. Nessa época era apenas um homem simples e curioso. Estávamos nos meados dos anos 70, até ali ele era somente “seu Joaquim”.
Um dia, meu irmão chegou em casa trazendo um LP com a imagem de umas passistas de escola de samba, dizendo olha que o irmão do seu Izídio lançou. Era o “Lambada das Quebradas” primeiro disco do “seu Joaquim”, que agora se transformara no “Vieira e Seu Conjunto”. Daquele ano de 1978 em diante, vimos o nosso vizinho se tornar um artista. Não havia um só ano que meu irmão Manoel não comprasse a cada final de ano um novo LP do Viera e Seu Conjunto. Cresci ouvindo e vendo sua trajetória artística na cidade. E depois, assistindo as notícias dos feitos de seu sucesso para além do espaço de Barcarena.
Desde o “melo do Bode”, que segundo chegavam as notícias “estremeceram” o nordeste, o Vieira e Seu Conjunto ia aos poucos conquistando o Brasil, até suas andanças por Portugal, África, e tantos lugares por onde passou, não houve mais limite para aquele homem e sua guitarra elétrica. Nas capas de seus álbuns fazia questão de divulgar um lugar ou objeto especial da cidade. Fotografou o “Trapiche Municipal”, o barco da prefeitura “Eduardo Angelim”, “A praça da cidade”, “a Igreja Matriz” e até aparelhagens sonoras. Mestre Vieira foi sem dúvida, o maior divulgador de Barcarena nos últimos tempos. Nunca esqueceu das pessoas e dos acontecimentos da cidade em suas letras de música.
Não a propósito, mesmo depois de fazer grande sucesso. Não era incomum encontrá-lo pedalando sua bicicleta nas ruas da cidade, ou conversando com amigos enquanto aguardava sua vez de comprar o açaí da tarde. Homem simples, criticado por muitos por ser destituído de ambição. Não, esse era o jeito dele.
Contador de histórias, apreciador de futebol, jogador e músico. Não há quem resista, nem que seja com as pontas dos dedos a bater na mesa ao som do mestre.
Tive o privilégio de conhecer e conviver com “seu Joaquim”, com o “Mestre Vieira”, e depois com “o mestre da Guitarrada”. Guardo com muito zelo, lembranças que tive, mais uma vez o privilégio de receber de suas mãos.
Direi com muito orgulho, eu conheci o seu Joaquim de Lima Vieira, o mestre que inventou a lambada, depois transformada em guitarrada. Fui seu vizinho, seu amigo de trabalho, seu fã incondicional e eterno admirador.
Vá em paz, que por aqui continuaremos a admirar seu trabalho."
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