Aurino Quirino PINDUCA Gonçalves possui
impressionantes 36 discos lançados em mais de 50 anos de carreira. Mas foi na
década de 70 que ele lançou os clássicos álbuns que lhe renderam uma
notoriedade inconteste: ser considerado o "divisor de águas" da música
popular feita no norte do país (sobre o
momento histórico/social da música paraense anos 70 consultar o texto sobre o
disco de Mestre Lucindo aqui do nosso canal).
Natural
de Igarapé-miri (terra de artistas renomados como Pantoja do Pará, Aldo Sena,
João Gonçalves, Mário Gonçalves, Pim e Dona Onete), Pinduca lançou oito LPs
fantásticos de 73 a 79. Neles temos uma representação cultural/social
emblemática e na época inédita: o cruzamento da música interiorana tradicional
aliada as sonoridades cosmopolitas da capital Belém do Pará.
Importante
ressaltar que a sonoridade coesa dos discos dessa fase (a maioria gravados em
estúdios de SP e RJ) se deve não só a sagacidade de Pinduca como cantor,
compositor e arranjador (experiência acumulada desde os anos 60 onde tocou
percussão e bateria em diversas orquestras de baile na noite de Belém, entre
elas a "Orlando Pereira"). O mestre soube também reger e escolher
muito bem os músicos de sua banda base que atuaram nos discos dessa primeira
década de carreira. Houve uma razoável rotatividade, porém estes
instrumentistas deram contribuições essenciais às obras do rei do carimbó. Nos
sopros tivemos Bemol, Benedito Palheta (ambos trompetistas), Pantoja do Pará e Santos
(estes saxofonistas). Estes senhores eram os solistas do grupo, alternadamente
nos discos. Vindos de orquestras de baile, bandas militares e de coreto do
interior, os fraseados desses músicos se tornaram uma das marcas registradas
no trabalho de Pinduca, complementando suas canções e trazendo um sabor único à
sonoridade de seu conjunto. Na bateria e
percussão passaram pelo grupo os músicos João Batista, Libonate, Ronaldo Baia e
Mauro do ritmo. Dani Gonçalves foi o primeiro contrabaixista e tocou nos primeiros
cinco LPs. Já nos quatro discos
posteriores dessa fase ( vol 06 a 09) quem assume o baixo é Téo (cujo o apelido
posterior seria "Théo Moreno" nos tempos da banda de rock Álibi de
Orfeu e atualmente Black Théo). Nas guitarras participaram Mário Gonçalves (texto
específico sobre ele e sua importância na música paraense publicado no blog e
aqui no nosso canal), Dinaldo Gonçalves e Guru. Além de Sabá , nos vocais de
apoio. Entre outros.
No
volume 08, além do seu consagrado carimbó elétrico permeando o disco, Pinduca e
sua banda se aventuram num "colorido rítmico" levemente diferente em
relação aos discos anteriores. Há ritmos como banguê , chá-chá-chá, marcha e
finalmente um uso da lambada pra além de experiências com o samba: agora ela se
faz presente em três canções como "Eh rapaziada", "Não Posso
Mais" e na curiosa "Melô do Estivador" dos contraditórios versos
"...já transformaram a Lambada em merengue...". Uma possível
explicação para tal alusão podemos encontrar numa fala dada pelo próprio
Pinduca que certa vez em um entrevista nos anos 00 disse ao repórter "nós
vencemos o merengue no fim dos anos 60" se referindo ao ritmo caribenho
como uma "invasão estrangeira" em terras paraenses.
Contraditoriedades a parte, o fato é que o merengue é um dos ritmos caribenhos
historicamente consagrados em solo
paraense desde os anos 50/60 e tido como ritmo base da própria lambada. Havia
inclusive uma máxima local muito usada até recentemente na qual qualquer alusão
a algo caribenho ou latino era logo classificada como "merengue",
tamanha força e influência que o gênero dominicano tem no norte do país. Um detalhe importante
referente a formação da banda base que toca no disco também merece ser
destacado: Esse é o único disco dos anos 70 onde Mário Gonçalves, o fiel
guitarrista escudeiro e irmão de Pinduca, não participa. A guitarra que se
houve no disco é unicamente de Guru, instrumentista que participará de outros
discos do rei do carimbó posteriormente, além de ter atuado como músico de estúdio
nos anos 80 e fundar nos anos 90 a "Banda Nova" (conjunto de carimbó
que terá relativo sucesso tendo lançado três CDs). Neste disco, Guru, deixa sua
marca. Há além das tradicionais guitarras rítmicas no estéreo, também alguns fraseados,
ora tocados de maneira econômica (em duetos com os sopros de Bemol e Santos nas
canções "O cavalo" e "Có-có-có-ró-có"), ora executados de
um modo mais expressivo em canções como "Não Posso mais" e "Linguarudo
Falador" (nessa um ineditismo nos discos de Pinduca, com a total ausência
de sopros na canção). E o grande hit de destaque desse disco é a clássica
"Vai ao Pará , Parou" com sua letra "visual" aludindo uma
tarde agitada típica no comércio de Belém do Pará, na beira da baía do Guajará:
"No
Comércio é a agitação
O Ver-o-Peso é uma
parada!
Na rua sete de
setembro
É apertadinho,
camarada.
O buraco na voz do dia
É um folclore
popular!
Cumprimenta a tia Raimunda
E seu amigo
particular.
Samba tem no
"Quem são Eles"
E no "Rancho
não Posso me Amofinar!" "
A canção é cantada ainda nos dias de hoje por mestre Pinduca,
e nessa gravação o solo principal é executado pelo grande trompetista ( já
falecido) Bemol.
Por Bruno Rabelo
P.S. : faço aqui um agradecimento público aos músicos paraenses Mg Calibre e Patrich Depailler que me auxiliaram em dados "cirúrgicos" específicos do texto. Obrigado amigos.
Ficha técnica
Vocal - Pinduca
Vocal de apoio -
Sabá
Bateria - Ronaldo
Baía
Guitarra - Guru
Baixo - Téo
Saxofone - Santos
Trompete - Bemol
Orgão - Cristovão
Produtor
Fonográfico: Som Industria e Comércio S.A
Direção Artística:
Paulo Rocco
Direção de Produção:
Talmo Scaranari
Produção Executiva:
Pinduca/ Talmo Scaranari
Coordenação
artística: Roberto Ramos
Arranjos: Pinduca
Técnico de Gravação:
Zilmar Araújo
Técnico de Mixagem:
Zilmar Araújo
Técnico de Corte
(masterização): Jorge Emilio Isaar
Gravado no Estúdio:
DO-RÉ-MI em SP
Coordenação e
supervisão: Impulso Marketing e Propaganda LTDA
Foto-capa: Ramon
Rodrigues
LADO A
1. Eh Rapaziada
2. O Cavalo (El Caballo)
3. Chá Chá Chá Do Pará
4. Sereia
5. Melô Do Estivador
6. Disco Voador
LADO B
1. Vai Ao Pará, Parou
2. Mensagem À Recife
3. Rebu Do Ocrides
4. Có-có-có-ró-có
5. Não Posso Mais
6. Linguarudo Falador